segunda-feira, 7 de maio de 2012


Nocivo, lascivo, passivo. 
Passível, mutável, instável 
Amado, amante, largado 
Promiscuo, pronto, partido 
Quebrado, abençoado, entediado 
Correndo na direção do infinito, sentado na beira do abismo 
Com a mira no meio do nada, com o nada ao redor do vaco 
Redundante, inútil, otimista 
Extremista, antagônico 
Anacrônico 
Largados aos montes, no centro sendo único 
Cercado e sem saída 
Alma, amago, agonia 
Sendo sempre o sempre mais rápido 
Sendo eterno e mortal 
Sendo claro e confuso 
Sentindo o que não seria permito 
Permitindo o que não faz sentido 
Procurando algo que não existe 
vivendo algo que não deveria existir 
confuso, direto e em círculos 
anacrônico, apressado, apático 
com a afazia gritando em meu ouvido, 
com o néctar, doce e venenoso saindo por minhas narinas 
com a fome de vida de uma pedra 
com um tempo diferente da realidade 
com uma poesia desconectada do coração 
com o coração conectado ao centro 
com o centro fora de equilíbrio 
com a alegria dos ignorantes, e a agonia dos sábios 
com janelas de percepção abertas, que continuam abertas involuntariamente 
e a força de caminhar e continuar se mistura ao comodismo 
e todos os cômodos cada vez mais parecidos, 
mesmo com todas as aparências se contradizendo 
nocivo lascivo passivo amado amante largado sozinho no meio de todos
caminhando para um lugar que ainda nao existe

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Casa da Vovó

Toda semana os netos desejavam visita, a avó, mas essa era relutante e satisfazia a saudades de seus netos sempre enviando fotos dela com o avô dos meninos.

Achavam incrível como os velhinhos dominavam a tecnologia social, interagindo de maneira viva e constante, de tal modo que as impedidas visitas não fossem tão sentidas. Visitas evitadas e justificads pelas viagens do velho casal por várias partes do mundo. Empolgados, os meninos controlavam suas saudades e sempre expressavam em comentários como gostariam de estar com eles nas fotos.

Mas a saudade é insaciável, e os netos foram visitar seus interativos avos.
Encontraram uma casa abandonada e sem vida, exceto pela grama que crescia descontralada junto com outras plantas já em crescimento mórbido.

Dentro da casa um forte cheiro de descuido e esquecimento e em meio ao caos a descoberta: o corpo de seu avô, devorado pelo tempo e conservado pela podridão.

Um computador ligado, uma faca ao lado de um mouse encardido e sustentado por livros de photoshop e fotografia digital e necromancia.

Um barulho, passos na cozinha, a avó andando cadavérica, resmungando em olhos de saudade:

- Meninos, não queria que viessem mas podem agora fazer parte de nosso album de viagens. Seu avô viajou faz tempo, mas vocês e minhas montagens são bem recentes...

e-mail
"Os meninos estão bem em minha casa, vejam as fotos!
Com carinho,
Vovó"