Toda semana os netos desejavam visita, a avó, mas essa era relutante e
satisfazia a saudades de seus netos sempre enviando fotos dela com o avô
dos meninos.
Achavam incrível como os velhinhos dominavam a
tecnologia social, interagindo de maneira viva e constante, de tal modo
que as impedidas visitas não fossem tão sentidas. Visitas evitadas e
justificads pelas viagens do velho casal por várias partes
do mundo. Empolgados, os meninos controlavam suas saudades e sempre
expressavam em comentários como gostariam de estar com eles nas fotos.
Mas a saudade é insaciável, e os netos foram visitar seus interativos avos.
Encontraram uma casa abandonada e sem vida, exceto pela grama que
crescia descontralada junto com outras plantas já em crescimento
mórbido.
Dentro da casa um forte cheiro de descuido e
esquecimento e em meio ao caos a descoberta: o corpo de seu avô,
devorado pelo tempo e conservado pela podridão.
Um computador
ligado, uma faca ao lado de um mouse encardido e sustentado por livros
de photoshop e fotografia digital e necromancia.
Um barulho, passos na cozinha, a avó andando cadavérica, resmungando em olhos de saudade:
- Meninos, não queria que viessem mas podem agora fazer parte de nosso
album de viagens. Seu avô viajou faz tempo, mas vocês e minhas
montagens são bem recentes...
e-mail
"Os meninos estão bem em minha casa, vejam as fotos!
Com carinho,
Vovó"
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