quinta-feira, 3 de maio de 2012

Casa da Vovó

Toda semana os netos desejavam visita, a avó, mas essa era relutante e satisfazia a saudades de seus netos sempre enviando fotos dela com o avô dos meninos.

Achavam incrível como os velhinhos dominavam a tecnologia social, interagindo de maneira viva e constante, de tal modo que as impedidas visitas não fossem tão sentidas. Visitas evitadas e justificads pelas viagens do velho casal por várias partes do mundo. Empolgados, os meninos controlavam suas saudades e sempre expressavam em comentários como gostariam de estar com eles nas fotos.

Mas a saudade é insaciável, e os netos foram visitar seus interativos avos.
Encontraram uma casa abandonada e sem vida, exceto pela grama que crescia descontralada junto com outras plantas já em crescimento mórbido.

Dentro da casa um forte cheiro de descuido e esquecimento e em meio ao caos a descoberta: o corpo de seu avô, devorado pelo tempo e conservado pela podridão.

Um computador ligado, uma faca ao lado de um mouse encardido e sustentado por livros de photoshop e fotografia digital e necromancia.

Um barulho, passos na cozinha, a avó andando cadavérica, resmungando em olhos de saudade:

- Meninos, não queria que viessem mas podem agora fazer parte de nosso album de viagens. Seu avô viajou faz tempo, mas vocês e minhas montagens são bem recentes...

e-mail
"Os meninos estão bem em minha casa, vejam as fotos!
Com carinho,
Vovó"

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